E enquanto a primavera se decide a deixar a timidez no armário e veste mais uma vez as cores da alegria, sinto a vida fugir-me diante dos olhos e da caixa de música, a deixar-se levar por entre nuvens de algodão que, apesar de estarem por cima da minha cabeça, sempre me amortecem as quedas maiores. Nuvens onde adormeço feliz com beijos que o vento me dedica enquanto me penteia os cabelos. O cenário perfeito, não é verdade? É pois verdade...

Mas os tempos felizes e das alergias duram somente 3 meses na vida das pessoas normais e, apesar de eu não saber exatamente quanto tempo são 3 meses na minha vida, sinto quando eles se despedem porque as pessoas deixam de espirrar e começam a ficar assadas do sol e da falta de roupa. O que é bom, rápido se acaba. - Mas, enfim, que não se leve isto a letra, tão pouco a peito. O cheiro das flores novas ainda me aspira a alma por mais algum tempo e as aves migratórias que dão o coração ao mar na esperança de ninhos mais quentes ainda por perto se deixam ficar, pelo menos enquanto o sol souber tomar o céu. E que remédio tenho eu se não habituar-me ao que não se aguenta igual?! Deixo-me vaguear pelos labirintos da vida que não foge já tão rápido como nos 3 meses anteriores, aprendendo com os caminhos que vão dar a lado nenhum, sabendo de cor o que para tás deixo e que só me devo deixar partir quando o instinto mandar porque as aves sempre migram, as estações mudam e as pessoas com elas. E para espirrar (porque somos uns fracos), basta um cheiro de pimenta...

Colleen, com o coração ao mar